segunda-feira, 31 de outubro de 2016

TEMPO...QUE TEMPO É ESSE?



Semana de fechamento de mês, de fechamento de ciclo, de encerrar histórias para assim quem sabe começar um novo tempo afinal  a esperança por tempos melhores anda a diminuir em função de uma realidade cada vez mais difícil de encarar...como acreditar no outro quando o que percebemos é mesmo um mero engano nas ações e palavras de promessas por tempo melhores...assim recebo esse texto de um grande poeta argentino, escrita numa época de gritos em prol da liberdade de expressão. Que possamos refletir sobre o que temos, o que conquistamos e o que precisamos ter para assim continuar a nossa caminhada: 

                 INSTRUÇÕES PARA ESQUIVAR O MAU TEMPO

Em primeiro lugar, não se desespere e em caso de agitação não siga as regras que o furacão quererá lhe impor.
Refugie-se em casa e feche as trancas quando todos os seus estiverem a salvo.
Compartilhe o mate e a conversa com os companheiros, os beijos furtivos e as noites clandestinas com quem lhe assegure ternura.
Não deixe que a estupidez se imponha.
Defenda-se.
Contra a estética, ética.
Esteja sempre atento.
Não lhes bastará empobrecê-lo, e quererão subjugá-lo com sua própria tristeza.
Ria ostensivamente.
Tire sarro: a direita é mal comida.
Será imprescindível jantar juntos a cada dia até que a tormenta passe.
São coisas simples, mas nem por isso menos eficazes.
Diga para o lado bom dia, por favor e obrigado.
E tomar no cu quando o solicitem de cima.
Dê tudo o que tiver, mas nunca sozinho.
Eles sabem como emboscá-lo na solidão desprevenida de uma tarde.
Lembre que os artistas serão sempre nossos.
E o esquecimento será feroz com o bando de impostores que os acompanha.
Tudo vai ficar bem se você me ouvir.
Sobreviveremos novamente, estamos maduros.
Cuidemos dos garotos, que eles quererão podar.
Só é preciso se munir bem e não amesquinhar amabilidades.
Devemos ter à mão os poemas indispensáveis, o vinho tinto e o violão.
Sorrir aos nossos pais como vacina contra a angústia diária.
Ser piedosos com os amigos.
Não confundir os ingênuos com os traidores.
E, mesmo com estes, ter o perdão fácil quando voltarem com as ilusões acabadas.
Aqui ninguém sobra.
E, isto sim, ser perseverantes e tenazes, escrever religiosamente todos os dias, todas as tardes, todas as noites.
Ainda sustentados em teimosias se a fé desmoronar.
Nisso, não haverá trégua para ninguém.
A poesia dói nesses filhos da puta.
Paco Urondo (1930 – 1976) foi escritor, jornalista, poeta, militante político e guerrilheiro argentino.


Que a força do tempo seja capaz de virar páginas, trazer paz ao mundo, alegria ao coração e beleza a alma que anda cansada de lutar por dias melhores.

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