O Verdadeiro Relacionamento Amoroso
Clarissa Pinkola Estés, no seu livro "Mulheres que correm com os lobos"a e especificamente na
história intitulada: A Mulher-Esqueleto, fala que o ser humano para viver em harmonia com os
outros, nas suas relações de afeto, é preciso enfrentar o que ele mais teme, foge e que não
tem como escapar – A natureza de vida-morte-vida do amor. Essa história é verdadeiramente
a história de caça a respeito do amor.
Gostaria de ressaltar que nas histórias de Clarissa, existem materiais que podem ser
compreendidos como um espelho refletindo tanto a doença quanto a saúde da nossa própria
vida interior – da nossa psique.
Segundo a autora, para cada relação de amor duradoura, um terceiro parceiro se faz presente
nessa união, quer queiramos ou não. Esse terceiro parceiro é justamente a mulher-esqueleto ou como
ela é chamada: A Morte. Contudo, a morte não é um mal como é conhecida no Ocidente –
nessa apresentação ela é uma divindade.
Essa mulher-esqueleto precisa ser acolhida pelos dois amantes para criar um amor duradouro.
Nessa relação ela sabe exatamente quando algo precisa morrer ou quando um ciclo precisa
fechar para que outro surja. Quando olhamos e abraçamos a mulher esqueleto, vemos que o
amor não é algo que vamos “obter”, mas sim algo gerado em ciclos de morte e de vida com
seus fluxos e refluxos.
Nos dias atuais, observamos nas relações de amor justamente esse medo da natureza da vida-
morte-vida, especificamente do aspecto morte. Qualquer que seja o final, o ser humano teme
e esquece que num único relacionamento amoroso existem muitos finais.
Outro aspecto importante é que numa relação amorosa passamos boa parte do tempo
fingindo que podemos amar sem que morram nossas ilusões, expectativas, a voracidade de
querer tudo, de querer que nada mude e de querer que tudo permaneça lindo no amor. A
tentativa de querer forçar o amor somente no seu aspecto positivo é o que faz com que o
amor acabe morrendo para sempre.
Para Clarissa, amar significa emergir de um mundo de fantasias para um mundo real, onde o
amor duradouro é possível. Amar significa ficar com, mesmo quando cada célula manda fugir.
E nossa tendência é fugir dos relacionamentos no momento em que verdadeiramente
conhecemos o outro, quando vemos seus limites e suas fragilidades ou mesmo quando o
prazer sexual diminui. Mas é nessa hora em que algo precisa morrer – nossas ilusões – para
que o novo possa nascer: o verdadeiro amor. E é nesse momento também que perdemos a
oportunidade de demonstrar coragem e de conhecer o amor.
Quando num relacionamento amoroso, por ventura, chega o momento onde as coisas ficam
complicadas, embaraçadas, receamos que o fim esteja próximo. Isso é um equivoco. Esse é só
um ciclo que precisa morrer e é preciso encarar de frente a mulher-esqueleto, pois ela esta
presente na relação, o vinculo já esta formado – Ainda bem!
O amor em sua plenitude é uma série de mortes e de renascimentos. Deixamos uma fase, um aspecto do amor e entramos em outra. A paixão morre e volta, a dor é espantada para longe e vem à tona mais adiante. Amar significa abraçar e ao mesmo tempo suportar inúmeros finais e inúmeros recomeços – todos no mesmo relacionamento.
Palavras de Clarissa: “Para amar é preciso não só ser forte, mas também sábio. A força vem do espírito. A sabedoria, da Mulher-esqueleto” e com um poema da mística mexicana Rosario Castellanos:
…dadme La muerte que me falta…
…dá-me a morte que preciso…
Texto original de Gianini Ferrari (Psicóloga Clínica )
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