quarta-feira, 24 de março de 2021

CARTOGRAFIA DO MAL

 

Numa semana assustadoramente triste com o crescimento da pandemia no nosso país, um grande  descaso do governo federal em ter atitudes para conter tal avanço, só nos resta ficarmos estarrecidos diante da dor, sem força para enfrentar tanta morte e raiva por não termos condições de acabar com o poder que foi eleito, que tem um único propósito: destruir a todos e levar-nos a um beco sem saída!
Assim me vejo! 
Quando me chega um poema desse querido amigo, diz tanto sobre tudo e de forma fluida que nos faz ter vontade de mudar...algo precisa ser feito pelos quatros cantos desse país: é preciso enfrentar o medo e lutar pela vida!
Será que nada vai sobrar disso tudo que estamos vivendo?





CARTOGRAFIA DO MAL

A morte a galope
de leste a oeste,
do sul ao norte.

A morte em seu trote
do Seixas ao Moa,
do Chuí ao Oiapoque.

A morte e seu coice
no velho e no novo,
no fraco e no forte.

A morte e seu golpe
do planalto à planície,
do baixo Leblon
ao Cabo de São Roque.

Foice em desgoverno,
a morte ceifa os ricos
e dizima os pobres.

Há gozo perverso
presidindo a morte,
besta sem rédeas
entregue à própria sorte.

Faltam ar, remédios,
leitos, covas,
mas a morte
- transbordante -
sobra,
montada no monstro
- boçal e ignaro -
que por desgraças e desobras
a promove.

W. D. Cavalcanti

Imagem: A dança da morte, fotograma de O sétimo selo, de Ingmar Bergman.


                Penso que ainda nos resta FÉ e ESPERANÇA...será um bom indicio? 



domingo, 21 de março de 2021

ATTRAVERSIAMO...um ano se passou!

 21 de Março de 2021 - há exatamente um ano atrás começava uma quarentena que nos tirou o chão e a capacidade de entender na época o que estava se passando, de repente, no dia 20/03 despedi-me dos meus colegas de trabalho. Era uma sexta feira, os olhares eram de susto e apreensão pelo que estava a vir, simplesmente arrumamos a mesa e voltamos para casa na certeza incerta de que logo iriamos nos encontrar...e lá se vão uma centena de dias...e onde estamos?



ATTRAVERSIAMO, uma expressão italiana que ouvi pela primeira vez no filme " Comer, Rezar e Amar", uma cena belíssima em que a Liz Gilbert explora através da expressão da personagem interpretada pela Julia Robert...fica no ar a mensagem: 

VAMOS ADIANTE! 

É PRECISO PERMITIR-SE AO NOVO, AO QUE VIRÁ...ARRISCAR, SEM MEDO!

E de medo foi o que mais experimentamos nesse ano, muita ansiedade e tristeza. Claro que algumas alegrias também, poucas é certo. Enquanto observo essa imagem acima o pensamento divaga, vejo a trilha que percorri, sinto os batimentos cardíacos e as lembranças de cada instante de anseio por qual passei...e agradeço cada milésimo de felicidade experimentada; cada livramento das balas perdidas do inimigo invisível que nos apavora a cada virada de esquina.

UM ANO.

Que busco me reinventar-se, que me apodero de outros significados para a nossa existência. Ver entes queridos e não poder beijá-los e abraça-los, me fez perceber o tão grandioso era o ato que muitas vezes existia por si só. A lamentável escola da vida que nos ensina: só damos valor quando perdemos, ou o amor e dor caminham juntos.

São 365 dias de refúgio caseiro. A vida se transformou numa tela onde vemos os colegas de  trabalho, estudos, reuniões, familiares e amigas/amigos no mundo virtual (nunca imaginei que iria saudar tão grandioso advento de outras possibilidades). Portais foram criados para nos permitir  entrar em locais que antes era só do outro mas que agora é o nosso elo.

Mais de trezentos dias sem sentar num boteco com as amigas, sem ir ao MAM, sem curtir os shows da Concha do TCA, sem ver uma boa película no Cinema de Arte, muito menos uma boa conversa com um cafezinho e aquele lanche bom após um filme impactante.

Será que quando essa pandemia/tempestade viral passar ainda estarão no mesmo lugar?

Ou eu ainda estarei por aqui?

Receios tenho muitos, maior deles talvez é não poder abraçar meu filho que está morando tão longe, impedidos ainda estamos de nos ver...Longe de ser um lamento, mas sendo.

 O momento exige renúncias. Cuidados de todos com todos. Pelo menos assim deveria ser. 

Um dia por vez!

                                                (foto de @radjordao)

Vontade de voltar o tempo...quando atravessei essa ponte, lembrava disso...vontade de estar aqui nesse lugar com meus alunos investigando aquele rio, aquelas águas...vontade de ter meus filhos pequenos a chamar para fazer as tarefas diárias, que nunca foram poucas, mas eram prazerosas, juro que se soubesse nunca reclamaria em acordar com tanto barulho de brinquedos, correrias pela casa...o trem da memória segue...a ponte volta na memória e me remete as lembranças que carregamos...e "atraversiamo".

O rosa, pink, rossa, rose...me fortalece nessa caminhada que devemos seguir em meio ao que ainda está por vir...que possamos reacender as cores mais vibrantes, quando finalmente atravessarmos todo esse caminho sombrio de incertezas e belas esperanças. Por que esperar é o que há para o momento, embora não possamos ficar parados...é preciso mesmo em posição de alerta aguardar os sorrisos.

E cultivar a ESPERANÇA, como diria o Gautama: Somos o que pensamos.

Vamos então elevar nosso pensamento.

"Podem cortar todas as flores, mas não poderão deter a primavera". 

                                                                       (Pablo Neruda)

                                      (@radjordao)







                  Abençoadas sejam as surpresas risonhas...

Abençoadas sejam as surpresas risonhas do caminho. 

As belezas que se mostram sem fazer suspense. 

As afeições compartilhadas sem esforço.

As vezes em que a vida nos tira pra dançar sem nos dar tempo de recusar o convite. 

As maravilhas todas da natureza, sempre surpreendentes, à espera da nossa entrega apreciativa. 

A compreensão que floresce, clara e mansa, quando os olhos que veem são da bondade. Abençoados sejam os presentes fáceis de serem abertos. 

Os encantos que desnudam o erotismo da alma. 

Os momentos felizes que passam longe das catracas da expectativa. 

Os improvisos bons que desmancham o penteado arrumadinho dos roteiros da gente. 

Os diálogos que acontecem no idioma pátrio do coração. 

Abençoada seja a leveza, meu Deus. 

Abençoadas sejam as dádivas generosas que vêm nos lembrar que viver pode ser mais fácil. 

Que amar e ser amado pode ser mais fluido. 

Que dá pra girar o dial. Que dá pra sair da frequência da escassez e sintonizar a estação da disponibilidade, onde alegrias já cantam, mas a gente não ouve. 

Abençoadas sejam as dádivas que vêm nos lembrar, com alívio, que há lugares de descanso para os nossos cansaços. 

Que há lugares de afrouxamento para os nossos apertos. 

Que dá pra mudar o foco. 

Que não é tão complicado assim saborear a graça possível que mora em cada instante. Abençoadas sejam as dádivas generosas que nos surpreendem. 

Elas não sabem o quanto às vezes, tantas vezes, nos salvam de nós mesmos.

                                                 

                                                           (Ana Jácomo)


Assim findou FEVEREIRO...com alegria pelas boas surpresas que chegaram, pelo livramento do que poderia ter me atingido e nos atingido. E o melhor: dançando com a alegria que me habita.









 

  Aos primeiros raios de sol de uma noite insone recebo essa linda e magnética oração. Que ela possa chegar até você com a alegria e o coraç...