Que nunca te doa o beijo, que nunca te doa o abraço.
Que nunca te falte um
“bom dia”, um “olá”.
E um “amo-te” e um
“quero-te” e um “preciso-te”.
Que nunca a tua voz se canse de se erguer, que nunca a tua mão
se canse de acarinhar.
Nunca.
Que nunca o teu medo te impeça de andar, que nunca a chuva te
obrigue a fugir.
Que nunca deixes de gritar se te apetecer gritar, que nunca
deixes de cantar se te apetecer cantar.
Que nunca te deites debaixo de quem te paga só para teres um
salário, que nunca pises a quem
pagas só porque és tu quem lhe paga.
Nunca.
Que nunca te arrependas de querer melhor, que nunca te castres
de recusar pior.
Que nunca te fartes de aprender, que nunca teimes no que não
podes vencer.
Que nunca o sonho te pareça grande demais, que nunca um choro se
te afigure eterno, que nunca a
dor magoar te pareça moderno.
Nunca.
Nunca evites a palavra que tem de ser dita, a violência que tem
de ser maldita.
Nunca feches a porta a quem te pede, nunca enchas de murros quem
te cede.
Nunca.
Diz nunca ao hipócrita que te diz “vem”, ao sacana que te pede a
mão.
Diz nunca.
E que só por uma vez te canses de viver.
Nunca.
in "EU SOU DEUS"
de Pedro Chagas Freitas
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