Até onde sabemos da verdade?
Até onde lidamos com as várias misérias humanas...miséria material e espiritual...amorosa e solidária.
Palavra que incomoda a todos: MISÉRIA!
E tanto já se escreveu...
E tanto já se lutou contra essa chaga que alimentamos.
Descubro textos sobre essa palavra, sou invadida por escritores que em épocas e tempos diferentes um dia escreveram brilhantemente sobre esse tema:
A miséria do meu ser
(Fernando Pessoa)
A miséria do meu ser,
Do ser que tenho a viver,
Tornou-se uma coisa vista.
Sou nesta vida um qualquer
Que roda fora da pista.
Ninguém conhece quem sou
Nem eu mesmo me conheço
E, se me conheço, esqueço,
Porque não vivo onde estou.
Rodo, e o meu rodar apresso.
É uma carreira invisível,
Salvo onde caio e sou visto,
Porque cair é sensível
Pelo ruído imprevisto...
Sou assim. Mas isto é crível?
A miséria do meu ser,
Do ser que tenho a viver,
Tornou-se uma coisa vista.
Sou nesta vida um qualquer
Que roda fora da pista.
Ninguém conhece quem sou
Nem eu mesmo me conheço
E, se me conheço, esqueço,
Porque não vivo onde estou.
Rodo, e o meu rodar apresso.
É uma carreira invisível,
Salvo onde caio e sou visto,
Porque cair é sensível
Pelo ruído imprevisto...
Sou assim. Mas isto é crível?
Pessoa...escreve sobre a pessoa, a miséria subjetiva, que dilacera a alma quando se perde de vista o seu SER.
Mia Couto nos revela:"
O que mais dói na miséria é a
ignorância que ela tem de si mesma.
Confrontados com a ausência de tudo,
os homens abstém-se do sonho,
desarmando-se do desejo de serem outros.
(Em Vozes Anoitecidas)
ignorância que ela tem de si mesma.
Confrontados com a ausência de tudo,
os homens abstém-se do sonho,
desarmando-se do desejo de serem outros.
(Em Vozes Anoitecidas)
E nosso grande "velhinho" Saramago traz violentamente uma análise poética do estado em que se encontra o mundo...nosso país, nossa cidade, nosso povo sofrido:
"Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme."
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme."
E lembro do meu amigo que sofre numa fila do SUS para fazer uma cirurgia, e sofro ao lembrar que tenho outro amigo preso injustamente esperando uma oportunidade de ser julgado...ambos vítimas de um sistema miserável....como eles milhares passam necessidades num mundo que ignora uma realidade que nos ameaça dia-a-dia.
Pra silenciar no peito esse estado de miséria, de pobreza em todos os sentidos só lembrando do grande Caio Abreu, que prefere encerrar com a dureza das palavras um estado que tanto incomoda e nos imobiliza:
Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim -
reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas.
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