A mulher macua exerce muitos
papéis na sociedade, mas o mais incrível é perceber a sua força e coragem para
enfrentar as dificuldades, procuro sempre entender o valor que tem em meio a
cultura local e num dia de participação no Festival Cultural na cidade de
Nacala foi possível observá-las mais de perto, no cuidado consigo e com os
filhos, bem como a cumplicidade que ambas tem...praticamente uma irmandade
feminina, tão unidas em torno das cantigas, danças e rituais do seu povo macua.
“M´MAKHUWA (macua) tem a sua
origem em mitos que nos remetem para o monte Namuli como lugar originário
primordial, situado na serra do Gurué, a norte da província da Zambézia e numa
das explicações etimológicas encontra-se a expressão: o povo mais selvagem.
É uma sociedade cultural sui
generis, com crenças e costumes que se praticam não só nas aldeias como no meio
urbano e se estenderam como práticas frequentes a todo o país. Quanto à
distribuição do poder, na sociedade macua, cada parte da linhagem tem a sua
própria autoridade, designada por ATATA, tio matrono, ou seja, o irmão mais
velho da mãe de um determinado EGO, o qual é, por isso, o chefe de um grupo de
unidades uterinas.
O conjunto de todos os ATATA tem
um decano, que é o chefe de escalão imediatamente superior, o chefe da
linhagem, chamado NIHUMU. Ele é a autoridade do conjunto das partes de uma
determinada linhagem, que forma a primeira unidade social macua chamado NLOKO.
Paralelamente ao chefe de uma
povoação existe a figura da mulher mais importante, chamada APWIYAMWENE.
Normalmente, esta mulher não exerce diretamente a autoridade. Ela é uma espécie
de conselheira, com papel de grande relevo na sociedade e nos ritos, ela é a
irmã uterina mais velha de um determinado chefe.
A APWIYAMWENE representa o ventre
da linhagem, que, detendo o poder, é a garantia da conservação da tradição.
Para além de uma série de requisitos que vão de acordo à conduta moral e social
idealizada e determinada o MWENE é escolhido pelo corpo eleitor do seu chefado
que é formado pelos chefes das linhagens (MAHUMU) locais. É no entanto porém a
APWIYANWENE «a mulher mais importante» que dá o parecer decisivo Esta figura
anciã feminina surge assim sempre ao lado da entidade do chefe MWENE, cujo
cargo se pode traduzir com várias denominações: rainha, mulher mais importante,
primeira conselheira.
O seu papel é de facto supremo e merece uma
análise detalhada. Veja-se etimologicamente: «A» prefixo plural da 1ª classe à
qual pertencem as pessoas; trata-se, aqui, de um plural majestático e de
respeito; «PWIYA» - senhor/a; «MWENE»- chefe, rei, máxima autoridade Assim, o
sentido etimológico da palavra poderá ser compreendido como: «a mais importante
das mulheres da sociedade ao lado do chefe». Ela representa o «ventre» original
da linhagem, sendo, por isso, considerada a «mãe das mães». Cumpre o papel de
medianeira do povo e de garantia do futuro da sociedade.
As suas funções exercem-se na
vida sócio-política: como alta conselheira , deve sempre ser consultada pelo
chefe no governo da sociedade, na administração da justiça e nos ritos. A
APWIYAMWENE desempenha um papel ativo de primeira ordem na vida ritual, especialmente
nos ritos de iniciação feminina e nos sacrifícios tradicionais.”
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