21 de Março de 2021 - há exatamente um ano atrás começava uma quarentena que nos tirou o chão e a capacidade de entender na época o que estava se passando, de repente, no dia 20/03 despedi-me dos meus colegas de trabalho. Era uma sexta feira, os olhares eram de susto e apreensão pelo que estava a vir, simplesmente arrumamos a mesa e voltamos para casa na certeza incerta de que logo iriamos nos encontrar...e lá se vão uma centena de dias...e onde estamos?
ATTRAVERSIAMO, uma expressão italiana que ouvi pela primeira vez no filme " Comer, Rezar e Amar", uma cena belíssima em que a Liz Gilbert explora através da expressão da personagem interpretada pela Julia Robert...fica no ar a mensagem:
VAMOS ADIANTE!
É PRECISO PERMITIR-SE AO NOVO, AO QUE VIRÁ...ARRISCAR, SEM MEDO!
E de medo foi o que mais experimentamos nesse ano, muita ansiedade e tristeza. Claro que algumas alegrias também, poucas é certo. Enquanto observo essa imagem acima o pensamento divaga, vejo a trilha que percorri, sinto os batimentos cardíacos e as lembranças de cada instante de anseio por qual passei...e agradeço cada milésimo de felicidade experimentada; cada livramento das balas perdidas do inimigo invisível que nos apavora a cada virada de esquina.
UM ANO.
Que busco me reinventar-se, que me apodero de outros significados para a nossa existência. Ver entes queridos e não poder beijá-los e abraça-los, me fez perceber o tão grandioso era o ato que muitas vezes existia por si só. A lamentável escola da vida que nos ensina: só damos valor quando perdemos, ou o amor e dor caminham juntos.
São 365 dias de refúgio caseiro. A vida se transformou numa tela onde vemos os colegas de trabalho, estudos, reuniões, familiares e amigas/amigos no mundo virtual (nunca imaginei que iria saudar tão grandioso advento de outras possibilidades). Portais foram criados para nos permitir entrar em locais que antes era só do outro mas que agora é o nosso elo.
Mais de trezentos dias sem sentar num boteco com as amigas, sem ir ao MAM, sem curtir os shows da Concha do TCA, sem ver uma boa película no Cinema de Arte, muito menos uma boa conversa com um cafezinho e aquele lanche bom após um filme impactante.
Será que quando essa pandemia/tempestade viral passar ainda estarão no mesmo lugar?
Ou eu ainda estarei por aqui?
Receios tenho muitos, maior deles talvez é não poder abraçar meu filho que está morando tão longe, impedidos ainda estamos de nos ver...Longe de ser um lamento, mas sendo.
O momento exige renúncias. Cuidados de todos com todos. Pelo menos assim deveria ser.
Um dia por vez!
(foto de @radjordao)
Vontade de voltar o tempo...quando atravessei essa ponte, lembrava disso...vontade de estar aqui nesse lugar com meus alunos investigando aquele rio, aquelas águas...vontade de ter meus filhos pequenos a chamar para fazer as tarefas diárias, que nunca foram poucas, mas eram prazerosas, juro que se soubesse nunca reclamaria em acordar com tanto barulho de brinquedos, correrias pela casa...o trem da memória segue...a ponte volta na memória e me remete as lembranças que carregamos...e "atraversiamo".
O rosa, pink, rossa, rose...me fortalece nessa caminhada que devemos seguir em meio ao que ainda está por vir...que possamos reacender as cores mais vibrantes, quando finalmente atravessarmos todo esse caminho sombrio de incertezas e belas esperanças. Por que esperar é o que há para o momento, embora não possamos ficar parados...é preciso mesmo em posição de alerta aguardar os sorrisos.
E cultivar a ESPERANÇA, como diria o Gautama: Somos o que pensamos.
Vamos então elevar nosso pensamento.
"Podem cortar todas as flores, mas não poderão deter a primavera".
(Pablo Neruda)
(@radjordao)